BIBLIOTECA COMUNITÁRIA TRANSFORMA VIDAS NO JARDIM PEDRAMAR

Quem as recebe é a anfitriã da casa, a professora aposentada Maria Aparecida Alves, de 80 anos. Dona Cida, como carinhosamente é conhecida, transformou a garagem da própria casa na biblioteca comunitária "Ler Para Crescer", no bairro periférico Jardim Pedramar, em Jacareí, no interior de São Paulo.

"A educação de São José falou que quem faz 70 anos não pode mais trabalhar. Eles me dispensaram. Fiquei aqui, sem fazer nada. Falei: 'o que vou fazer?'. Conversando com o Thiago (Pedra), do Cultura no Morro, ele deu a ideia de fazer uma biblioteca aqui no bairro, para atender as crianças. Comecei com uma prateleira e um armário. O pessoal foi doando livros, prateleiras... Agora, aumentou", contou Dona Cida.

"É muito bom. Você nem imagina o que é você passar conhecimento para as crianças. É um conhecimento que a gente passa. Mesmo você não estar mais dando aula, é um conhecimento"

Embora a infraestrutura do bairro ainda deixe a desejar em muitos aspectos, as raízes culturais no Jardim Pedramar são fortes e presentes na vida dos moradores. A biblioteca comunitária Ler Para Crescer, segundo Dona Cida, nasceu diante da falta de uma biblioteca pública para que crianças e jovens pudessem ter acesso aos livros. Ela tem parceria com o Cultura no Morro, um coletivo que promove ações culturais no bairro.

A biblioteca começou com livros que Dona Cida tinha em casa, do período em que foi professora do 1º ao 4º ano do ensino fundamental. O tempo foi passando e o acervo, consequentemente, crescendo. Hoje, são cerca de quatro mil livros. O espaço recebe doações de livros e conta com o apoio de voluntários para cuidar do acervo e desenvolver atividades culturais.

"Esses meninos que me ajudam agora, eram desse tamanho aqui (mostra o tamanho de uma criança). Eles vinham aqui para brincar. Depois, foram tomando gosto pela leitura, começaram me ajudar e agora também coordenam junto comigo. Quem mais brinca com as crianças são eles. Eles inventam várias coisas", contou Dona Cida.

"Foi uma experiência muito legal. Vou poder falar: 'sabia que eu já escrevi um livro? Está lá na biblioteca'. Eu gostei muito dessa atividade porque tem leitura, tem escrita. Aqui (na biblioteca), tem várias atividades legais. Leitura, brincadeiras, gincanas. Participamos de uma gincana e ganhamos medalha. Guardo a medalha até hoje", disse Bianca Vitória, de 11 anos.

Dona Cida deixou a sala de aula, mas continua cercada por crianças. Ao olhar para elas, enxerga a menina que foi. Se hoje ela apresenta o universo dos livros para a nova geração, é porque também foi apresentada ao mundo das histórias por quem veio antes.

Ela se formou em pedagogia, mas também trabalhou alguns anos na indústria. Em sala de aula, foi professora das redes municipais de Jacareí e São José dos Campos. Atuou tanto na educação infantil quanto nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Em sala de aula, colaborou com a educação de muitas crianças. Agora, na casa com calçada colorida, segue educando e transmitindo para as próximas gerações o que recebeu da avó.

"Eu me vejo neles. E eu não tinha livros. Minha avó não sabia ler, mas ela sabia as histórias de cor. Aprendi com sete anos, quando entrei na escola. (...) Eu sonho com eles se tornando também voluntários na biblioteca. Essas meninas maiores, elas já são quase as minhas voluntárias", contou.

O gosto pelos livros, como se pode ver, vem passando de geração para geração. Com Dona Cida, o caminho da educação tem um chão colorido.